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sábado, 4 de abril de 2015

O Policiamento do Politicamente Correto.

Em conversas com o pessoal de criação, tenho percebido um tema recorrente e que provoca muita reclamação entre os profissionais. É o tal do politicamente correto.

Não apenas pela questão moral, mas também pela comercial, ninguém seria louco de associar a sua marca a um evento racista, ou ao bullying, ou a qualquer ato de discriminação de minorias. Caso viesse acontecer, mesmo sem a intenção deliberada do autor, o projeto nem sairia da agência. Seria bloqueado na raiz. Isso é uma questão de bom senso.

Porém, o bom senso parece que não é uma qualidade que prospera no mundo. E especialmente em nosso país, onde o engajamento faz com que muita gente adore encontrar pelo em ovo.

Veja o caso da campanha da Skol para o carnaval deste ano. Na peça veiculada (foto abaixo), o texto dizia apenas: "ESQUECI O ‘NÃO’ EM CASA”.


Incomodadas com o mote, alegando machismo e apologia à violência contra a mulher, a publicitária Pri Ferrari e a jornalista Mila Alves, fizeram uma intervenção no anúncio e ganharam seus 15 minutos de fama, acendendo assim o debate na internet. Porém, como acontece com tudo neste país, de uns tempos para cá, o viral das moças se transformou em um verdadeiro Fla-Flu.

A Skol, para evitar estragos à imagem, decidiu substituir o anúncio. A cervejaria informou que a intenção era de estimular as pessoas a aceitar os convites da vida e aproveitar os bons momentos.

É evidente que esse era o tema da campanha, sem nenhum outro tipo de conotação. Apesar da maioria das propagandas de cerveja ter como foco o público masculino, nunca uma empresa cometeria a loucura de incentivar qualquer canalhice contra a mulher.

Se essa peça fosse veiculada há uma ou duas décadas, com certeza, não sofreria nenhum incomodo. Será que nos tornamos exigentes demais? Ou será que é prova de que estamos mais preconceituosos, no sentido em que, os conceitos incentivados pela nossa tribo nos faça ver chifres em cabeça de cavalo?

Antes que alguém se irrite comigo, mostro que mais gente pensa assim. O CONAR, órgão regulador da publicidade, veiculou um comercial dentro desse espirito. Nele, um casal está em um restaurante comendo feijoada e o homem chama o garçom para fazer uma reclamação: "Não entendi por que você separou o arroz do feijão. Por acaso você é a favor da segregação?", pergunta.

Para assistir o vídeo clique aqui.

A mulher reclama que a couve é o único alimento "feminino" do prato, uma vez que só há arroz, feijão e torresminho. "Isso é machismo", diz ela, que continua, “Sem contar o paio, que é uma conotação sexual de muito mau gosto”.

Ao final da peça, criada pela AlmapBBDO, o locutor diz que o Conar é responsável por regular a publicidade no Brasil e todos os dias recebe dezenas de reclamações. "Muitas são justas; outras, nem tanto. Confie em quem entende. Confie no Conar".

O comercial mostra com exagero o que ocorre em nosso dia-a-dia. Uma espécie de onda plebiscitária, onde você é obrigado a tomar uma posição - ou é a favor ou contra - sem uma terceira via. Ser opor às injustiças é correto. No entanto, o radicalismo também é injusto.

Já nos Estados Unidos, a Heineken brincou com as leis de regulamentação dos comerciais de cerveja. Para o lançamento da nova Heineken Light, a cervejaria trouxe o ator Neil Patrick Harris, que faz sucesso como Barney de “How I met your mother”. Em toda a campanha exibida no ano passado, o ator é impedido de beber e no comercial do link abaixo, Neil afirma que não pode beber em frente as cameras, mas que, bebe Heineken o dia inteiro, depois se corrige: o dia inteiro, não, às vezes, e vai brincando de forma politicamente correta até que na assinatura, o anunciante afirma que “Nenhuma cerveja foi consumida durante as gravações do comercial”

Pois é, vivemos em um mundo onde o policiamento ideológico transforma o ato mais inocente em uma perversão abominável.


Para assistir o vídeo clique aqui.